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#ContaPraGente com Claudia Vergara

Aqui começa nossa edição número 1 do #ContaPraGente, este projeto que nasceu da vontade de compartilhar, através do olhar de líderes inspiradores de RH, histórias dos bastidores da área. Isso tudo porque a gente é bem curioso e adora dividir momentos legais!

Então, acompanha aí o que a Claudia Vergara tem pra CONTAR PRA GENTE! Mas antes, deixa a gente contar, para quem ainda não conhece, quem é a Claudia Vergara! De sorriso largo e esbanjando simpatia, ela costuma se definir como filha de uma doce brasileira com um animado panamenho. Nasceu entre dois portos e tem a família e os amigos como seu porto seguro.

 

Metre em Psicologia e Saúde pela UFCSPA e formada em Psicologia, entrou nesse mundo porque imaginava que a paixão pelas crianças a faria navegar pela psicologia clínica infantil, mas aí apareceu um RH no meio do caminho. Estagiar na Refinaria Ipiranga a fez entrar em contato com um mundo dinâmico e cheio de oportunidades. Apaixonou-se e da área não saiu mais! É apaixonada por gente, comunicação e inovação.

Trabalhou em cargos de gestão de RH na Vinícola Almadén, Ericsson, Cargill Meat Foods, Seara Alimentos, Nex Group e hoje é a Gerente Corporativa de Desenvolvimento de Pessoas do Grupo Habitasul e Irani Papel e Embalagem. Em cada um destes ambientes, Claudia faz questão de ressaltar os vínculos importantes com as pessoas e a oportunidade de aprendizagem que se estabeleceu em cada cenário no decorrer de mais de 20 anos de trabalho na área. Na sua trajetória, conquistou três premiações do Top Ser Humano da ABRH, mostrando que junto com o seu time, é gente que faz!

Ela tem muita história para contar, mas levando em consideração o atual cenário, seria negar a realidade não dividir como tem sido conviver com um chefe novo, que ela tem chamado carinhosamente de Sr Covid. Ah este chefe novo, tão exigente! Muda de estratégia a todo o momento e sem avisar. Não dá nem tempo para a gente se planejar direitinho e fazer aquela matriz SWOT que nos ajudaria numa hora dessas. Mas como todo o chefe exigente, ele tem ensinado muito e mostrou que a roda pode ser trocada sim, com o carro andando. Para Claudia, a sensação é estar vivendo em um laboratório, em um experimento, vendo como as coisas funcionam e constantemente adaptando e evoluindo nesta jornada.

Vem para cá Claudia, que hoje você escolheu contar pra gente sobre “Gestão de RH e Engajamento em Tempos de Covid sob uma perspectiva da Psicologia Positiva”.

Claudia #contapragente que o mundo nunca foi tão VUCA como agora, mas na contrapartida, a história que vem vivendo dentro do RH para manter o time engajado, mesmo em tempos de Covid, tem sido muito enriquecedora: “a empresa está com uma história muito legal, estamos fazendo um trabalho reconhecido e muito elogiado, então podemos falar sobre isto”.

A experiência em ambientes de RH, nas diferentes empresas em que atuou, mostrou que as necessidades da área são muito parecidas: comunicação, desenvolvimento de lideranças e fazer gestão de uma forma estratégica, engajando as pessoas e tendo o seu comprometimento. O que muda é só o negócio em si e o que a empresa vende. Claudia conta que um professor de Psicologia sempre dizia que “é uma balela dizer que os seres humanos são diferentes, o ser humano na verdade é muito igual, todo mundo só quer na verdade uma coisa: ser amado, em menor ou maior nível”. E para ela, o RH vai na mesma linha, com necessidades muito semelhantes.

A pandemia do Covid trouxe o desafio de manter as pessoas engajadas, de não deixar a peteca cair, mesmo diante de um cenário assustador, confuso e impreciso, onde tudo aconteceu da noite para o dia. Desde Janeiro, quando se ouviu falar em Covid na empresa, veio a provocação de comunicar alguma coisa a respeito, fazer uma campanha para mostrar o que era exatamente este vírus e que as pessoas precisavam higienizar as mãos, usar álcool gel, não compartilhar mais o chimarrão…

Pouco tempo depois desta campanha inicial, Claudia conta que estavam num encontro de alinhamento estratégico da área – uma imersão em um hotel perto de uma das fábricas – e no final de um dos dias, comentou-se acerca do lockdown que estava acontecendo na Itália.

“A impressão que tinha é que estávamos protegidos numa bolha, confinados na imersão da empresa e longe dos noticiários. Quando saímos deste evento, já tinha uma reunião agendada de diretoria. Foi tudo muito rápido, logo já levantamos junto ao SESMT quem era do grupo de risco, os casos de doenças crônicas e as gestantes. No dia 13 de março nós já tínhamos as pessoas do grupo de risco afastadas e a determinação era assim: ´vai pra casa´, como vai, como deixa de ir, não importa. No dia 16 ou 17 tivemos outra reunião e decidimos que íamos afastar todos em home Office”.

Claudia não esperava outra atitude da diretoria e do time de lideranças, já que a missão da empresa é “Construir Relações de Valor” e um dos seus valores é “Em primeiro lugar a vida”. Assim, de uma média de 3000 colaboradores, mais ou menos 700 colaboradores foram afastados: 445 em home Office e os demais em licença remunerada por questões de saúde e pela atividade não possibilitar o formato de trabalho à distância.

Os desafios que envolveram esta decisão foram grandes e a agilidade na tomada de decisão, combinada com a flexibilidade, foi determinante. Muitas pessoas tinham notebook em casa, mas muitas não. A área de TI teve que se desdobrar para conseguir os notes e acessos remotos em um dia. Esta quebra de paradigmas foi vital para, por exemplo, permitir que as pessoas acessassem o sistema da empresa das suas casas ou levassem as CPUs consigo.

Como o grupo está em quatro Estados diferentes – RS, SC, MG e SP – alinhar a empresa a cada decreto novo, que surgia da noite para o dia, também foi desafiador. “O Sr Covid foi o pior chefe que eu já tive na vida, ele é o mais exigente de todos. E esta história de lançar decreto à noite? A gente ficava sabendo dos decretos e tinha que correr para fazer o comunicado no mesmo dia, porque no dia seguinte já não teria ônibus na cidade e como as pessoas iriam trabalhar nos nossos hotéis? E aí de repente, fecharam os hotéis…então foi tudo uma loucura!”

Claudia conta que o foco, em todo momento, foi no endomarketing, na divulgação de campanhas de comunicação, para garantir que as pessoas se sentissem seguras dentro da fábrica e fora dela. Foi uma comunicação que buscou ensinar a conviver com a pandemia, garantindo que as pessoas saíssem e voltassem as suas casas seguras.

A empresa criou um comitê de crise e um protocolo com mais de 32 diretrizes de enfrentamento. Confere aqui algumas destas diretrizes que a Claudia compartilhou com a gente para que o time pudesse conviver em melhor harmonia com o tal do Sr Covid e assim preservar a saúde e a vida:

  • Transportes fretados da empresa com lugares devidamente marcados e obedecendo às diretrizes de afastamento;
  • Restaurantes remodelados, com lugares marcados e distância regulamentada;
  • Buffet do restaurante substituído por “pratos feitos”, para evitar contaminação;
  • Horários das refeições estendidos, para evitar aglomerações no espaço;
  • Coffee breaks entregues em bandejas individuais;
  • Cancelamentos de viagens e visitas externas;
  • Demarcação no chão para delimitar o lugar nas filas;
  • Cancelamento da biometria junto aos relógios ponto;
  • Garantir a higienização dos vestiários imediatamente após seu uso;
  • Doação de um kit com 8 máscaras para todos os colaboradores;
  • Criação do canal de bate papo “Bem Estar”, com um grupo de profissionais da empresa preparados para escutar e aconselhar a atravessar este momento;
  • Medição de temperatura, tapete de higienização e álcool em gel na entrada da empresa.

Hoje, após mais de dois meses que a empresa já está trabalhando com estas diretrizes, já foi definida a aprovação e extensão do home Office até o dia 31 de agosto. A empresa decidiu que antes do inverno, as pessoas não voltam.

“Eu tenho dito que o ser social que habita em mim vai enlouquecer. Já estamos num outro momento e agora nós lançamos um mini pacote de benefícios para os colaboradores. Enquanto eles estão em home office, a gente se preocupou muito com outras coisas, como por exemplo, com a ergonomia. Criamos o canal Bem Estar, que tem várias dicas de ergonomia, dicas de cuidado com a altura do monitor, regulagem da cadeira e agora a empresa está fornecendo cadeiras para os colaboradores, uma cadeira que foi validada pelo SESMT.. Nós continuamos tendo lives de ginástica laboral, com exercícios para o colaborador fazer em casa e criamos também um bate papo on line, colocando à disposição um grupo da empresa para quem quisesse ligar e conversar sobre o Covid. A empresa disponibilizou um auxílio para as despesas de internet e de luz que vai passar a ser lançado na folha, assim como o valor da alimentação”

Outro desafio, compartilhado pela Claudia, foi lidar com as comparações que poderiam surgir entre grupos, dificultando a aceitação de que alguns podem trabalhar no formato home Office, na segurança dos seus lares, enquanto outros precisam continuar vindo à fábrica. É preciso evidenciar que estar em casa neste momento, não é um privilégio e sim uma questão de diminuir as possibilidades de contágio, afinal de contas, todos estão confinados, em isolamento.

“O trabalho de engajamento deu-se mostrando a cada um a importância do nosso negócio como ponta de cadeia em outra cadeia essencial, que é a de alimentos. Nós produzimos embalagens para alimentos; nós não tínhamos como parar nossa operação, senão estas embalagens iam faltar. Fomos trabalhando muito isto junto com as equipes: a questão da autoestima, valorizando aquilo que a gente faz. Nossa preocupação é manter o time da fábrica se sentindo muito valorizado pela importância que ele tem no País, no negócio, no que ele faz, firme no propósito de garantir que o alimento embalado chegue até o cliente”.  

Claudia conta também que o time se mantém engajado à medida que procuram dar continuidade em atividades que faziam antes, porém de uma forma adaptada. Seguiram com as comemorações de dia das mães, levando um mimo para aquelas que estavam afastadas e no dia 06 de junho foi comemorado o aniversário da empresa, que sempre foi uma data bastante festejada. Todos sempre ganhavam uma camiseta, tiravam foto em grupo, reuniam toda a fábrica. Esse ano não pôde ser assim, então foram feitas adaptações, mas sem deixar de comemorar. Ganharam mascaras personalizadas, álcool gel e backdrop para selfies, além de filtros para as redes sociais. E comemoramos com um webnario para os colaboradores e familiares, com a Denise Fraga, falando de Relações em Tempos de Covid-19. E cantamos parabéns on-line junto com o nosso coral de SC.

O mestrado de Claudia, concluído no ano passado, se deu sob a perspectiva da Psicologia Positiva, metodologia que ela é fã. Observamos então, a leveza em conduzir este momento, lançando sempre um viés de ganhos, mesmo em um cenário tão difícil. No seu entender, a chegada da pandemia trouxe aspectos que vieram para ficar, acelerando questões que talvez só acontecessem lá na frente.

Dentre tantas mudanças, o home Office é um exemplo disto. Para ela, a empresa nunca foi tão indústria 4.0 como é hoje. De um dia para o outro todas as licenças e acessos foram liberados. Vários paradigmas foram quebrados e Claudia terá a primeira contratação 100% online na área de RH. Cabe salientar aqui, que o formato home Office, não é nem o céu, nem o inferno. Para ela, nem todos se adaptam a esta forma de trabalho e nem mesmo desejam que funcione 100% assim. Trabalhar de forma híbrida talvez se configure em uma alternativa. O EAD também veio para ficar: a empresa, que tinha lançado a sua plataforma no ano passado com apenas três cursos, hoje já conta com vinte.

Neste momento, a empresa está realizando uma pesquisa on line e a meta é atingir 100% dos colaboradores que estão em home office, para entender vários aspectos em relação à esta experiência. A ideia é ouvi-los em relação a dois momentos: um para avaliar o momento atual e outro para pensar no futuro, fornecendo uma dimensão de como o colaborador gostaria que fosse o trabalho no futuro. O resultado da pesquisa vai servir como input para se pensar em um plano de retomada dentro do negócio. O modelo com certeza exigirá maturidade e relação de confiança entre empresa e empregador.

A experiência do home Office mostra que o modelo de gestão também precisa ser adaptado. A relação comando-controle, que pode trazer uma necessidade de controlar o que o colaborador está fazendo dentro do seu lar, também precisa ser repensada. Quem quiser controlar tudo neste momento, com certeza vai sofrer muito mais. Para contribuir na transição deste momento, eles criaram, dentro do modelo de ensino à distância, um módulo chamado “Liderando em Tempos de Home Office”. Além disso, a empresa disparou um comunicado interno com orientações e as lideranças foram convidadas a fazer um curso do GPTW. Claudia afirma que é preciso se pensar em outro código de conduta.

“Ao meio dia é natural que se pare para fazer comida para os filhos, para a família…então, eu espero que junto com o home Office fique também uma tolerância maior. Hoje mesmo a gente marcou uma reunião às 15h e levamos quase 30 minutos para conseguir começar devido a instabilidade da internet. Pensa em meia hora de atraso em uma reunião presencial? Que irresponsabilidade, que horror…risos. Outra tolerância também é com os filhos. Eles estão em casa, eles precisam da mãe, querem o pai…então já assisti de tudo”.

Trabalhar em home Office pode parecer fácil e prazeroso, mas a grande verdade é que temos muitas lições a aprender com este formato. Antes de tudo, é necessária a demarcação dos diferentes papéis que temos na nossa vida, até para não se correr o risco de uma adição ao trabalho. Outro ponto importante é que não se pode pautar o formato de home Office, através da experiência de pandemia que estamos vivendo. Quando a vida voltar ao normal, teremos nossos compromissos sociais novamente. É provável que muitos voltem a ter um profissional que ajude na limpeza da casa, os filhos voltarão às escolas e nos defrontaremos com situações diferentes da que estamos vivendo.

A questão da arquitetura também deve mudar muito, já que em muitas casas não existe um escritório restrito às atividades profissionais. Hoje estamos invadindo o espaço de brincar dos filhos. Claudia conta que numa das reuniões à distância, a criança pediu à mãe: “Dá para falar um pouco mais baixo?”. A grande maioria das pessoas adapta um lugar da sua casa para trabalhar, seja na cozinha, na sala ou no quarto.

Outro ponto que Claudia ressalta é que as ações não podem ser restritas somente àqueles que lideram no formato home office, já que as fábricas também precisam de direcionamento. É preciso orientar a todos a lidar em um cenário de crise. No grupo todo, eles falam na importância de ter um líder da crise, que saiba administrar este momento.

Finalizamos o #ContaPraGente com a Claudia falando sobre as principais competências e habilidades – tanto do RH como das lideranças – para fazer uma travessia segura neste momento. Ela considera que dentro dos recursos pessoais que todos temos, o mais importante é a resiliência, a flexibilidade e a esperança. Neste percurso, a Psicologia Positiva é uma aliada muito forte.

A esperança é um construto dentro da Psicologia Positiva e ela traz a visão de que é necessário construir rotas até se chegar a um objetivo. “Foi importante traçar diretrizes, rotas de esperança, para que o vírus não chegasse até nós, para que pudéssemos proteger ao máximo nossos colaboradores que estão em casa ou nas fábricas”.

Os estudos de Psicologia Positiva tem mostrado como a gratidão mexe com a nossa neurociência.

“Eu tenho muita gratidão pela empresa onde estou, pelo time que eu tenho, sempre agradeço pela minha cama como o melhor lugar do mundo, estou lá bem protegida. Acho que ter essa gratidão nos ajuda. A vida tá diferente, estou louca de saudade dos meus amigos, gostaria de ter a liberdade, mas estou com saúde, estou com as pessoas que eu amo, estou com o emprego que eu adoro, então a gente tem que agradecer. Ah mas tu agradece porque tu tem tudo isso! Sei que sou uma pessoa privilegiada, agradeço também por ser uma pessoa privilegiada, mas acho que tu tem que agradecer. Não agradeço só agora, agradeço quando eu tinha um ´freedom fog´ e  duas calças, duas camisetas e uma jaqueta, eu era grata porque eu estava conseguindo fazer a minha faculdade, mesmo sem dinheiro. Tem que ser grato e isso é muito importante, a gente agradecer”.

Para Claudia, tudo o que se está fazendo na empresa hoje é pelo dia do reencontro, “que vai ser o dia mais bonito da face da Terra”. Esse é o momento que os RHS têm que dizer porque existem, ao que vieram. É chegada a hora de gestão com pessoas na veia. É o momento VUCA de verdade, nunca a mudança foi tão real e para todos. E o momento de ser estratégico, mas sem nunca esquecer a sensibilidade, que é a nossa grande base.